segunda-feira, 24 de março de 2008

Água mole em pedra dura...


Imprecisa é a linha que separa a persistência e a teimosia. Perceber que tentar outra vez é desperdício de energia é uma habilidade que demanda tempo para ser apurada. Exige bom senso, capacidade de aprender com as experiências alheias, memória, paciência e, sobretudo, humildade pra perceber que nem tudo pode ser como queremos.
Será feliz a água que fura a pedra ou a pedra que percebe que ceder à água é o caminho pelo qual os minerais se espalham pela natureza? E por conseqüência parte dela mesma.
Em diferentes momentos da nossa vida nos encontramos diante do tênue véu que separa a teimosia da persistência, mas em nenhum deles a nossa percepção se torna tão distorcida quanto nos assuntos do coração. Fica difícil não ligar mais uma vez, fica impossível resistir àquele olhar de cachorro sem dono e não dar mais uma chance. É inútil tentar escapar de mais um beijo, de mais um jantar, de mais uma noite...
O desejo de tocar, pela primeira ou pela última vez, o sabor conhecido ou desconhecido daquele beijo; o mistério ou a saudade tornam a decisão de não insistir quase impossível de ser tomada, nos tornamos então reféns dos nossos instintos afetivos mais primitivos Se a persistência é o caminho do êxito, a teimosia nos leva ao desgaste e ao amargo sabor da decepção.
Água mole em pedra dura...
Como você tem terminado essa frase ultimamente? Não será hora de dar um basta nesse relacionamento desgastado pela falta de afinidade, pela falta de companheirismo? Ou será hora de ligar mais uma vez pra dizer que ainda a ama, que ela sempre será a mulher de sua vida? A verdade é que não adianta seguir um coração confuso! Nesse ponto voltamos ao início desse texto, use a habilidade que você adquiriu ao longo de sua vida, ouça sua razão. O nosso coração nem o dos outros é ficção científica onde o improvável acontece e menos ainda desenho animado que de um quadro pra outro o que estava estilhaçado ressurge intacto.
Se a possibilidade de seguir viagem feliz é real, persista! Não desista apenas porque está difícil, mas se o fracasso está previsto, pule fora! Poupe-se e poupe o próximo!
Eu por hora continuo tentando, o que está dando certo não deve ser mudado.

sexta-feira, 14 de março de 2008

En Passant


Nesse último fds, tive o prazer de receber da minha namorada o convite para assistir ao espetáculo En Passant, em cartaz no teatro do SESC sabados e domingos deste mês de março.

Longe de querer fazer uma crítica (até pq naum cabe a mim), quero compartilhar minhas impressões com vocês.

Adorei!!! Uma peça muito bem encaixada, com sintonia entre os atores, luz, cenário e figurino... gostei do ritmo do diálogo, do desenrolar do enredo que hora se passava no palco e hora na minha cabeça, esse era o principal elemento do espetáculo, ele se desenrola de acordo com as suas experiências individuais.

A peça passeia ainda sobre as dificuldades que temos em compreender aquilo que queremos e a distância que há entre nossos pensamentos e nossas palavras, com tiradas excelentes como: "...só fale se for para melhorar silencio..." e "... por favor decore meu rosto..." (que inspirou o post abaixo) o espetáculo nos convida a uma viagem pelo nosso mundo individual e pelas vezes que tivemos vontade de "desdizer"o que foi dito.

Parabéns aos produtoes, ao Jadeilson Feitosa que faz o rapaz do balanço e a Milena Pitombeira, a moça do balanço, que mostrou que além de muita inteligência tem um grande talento pra transmitir a sua mensagem.


Assistam En Passant, eu recomendo!

Por favor, decore meu rosto...

Essa frase acima é uma das falas da peça An Passant (em cartaz no teatro do SESC, Sab e Dom do mês de março de 2008), ao ouvi-la refleti sobre quantos rostos conseguimos decorar, quais rostos, por que razões certas fisionomias ficam na nossa cabeça às vezes por anos a fio.
Poderia pedir ajuda aos meus amigos médicos e enveredar pelos caminhos que levam o nosso cérebro a memorizar e associar rostos, entretanto, embora a psiquiatria e a neurologia me encantem, eu resolvi deixar os livros de médicos de lado.
Quantos rostos nossos olhos vêem durante um dia, na televisão, no visor do nosso celular no monitor do nosso computador, no nosso trabalho, nos outdoors? Quais dentre essas milhares de fisionomias ficarão guardadas na nossa cabeça? A professora do jardim da infância, o nosso dentista, o porteiro da nossa escola, a bonitona da academia, um desconhecido rosto na multidão de um show, a tiazinha do salgado da padaria... no meio das nossas preferências, das nossas vontades reprimidas, das nossas experiências passadas (desta ou de outras vidas) quais rostos decoramos?
Pior quando a lembrança de um rosto é fruto de um momento traumático, o rosto distante do médico que deu a notícia de um falecimento, a cara nervosa do assaltante, o ar de mal amada da funcionária do banco que insistia em atrapalhar a liberação daquele investimento... rostos, caras, bocas, sorrisos, cabelos... quais queremos, quais amamos, quais são tão nossos que parecem o reflexo de nós mesmos? E o nosso rosto, será que decoramos? Será que sabemos como ele está hoje ou temos ainda o reflexo de um rosto que foi consumido pelo tempo?
Nos esforcemos então, para decorar o rosto daqueles que nos fizeram bem, daqueles que amamos, daqueles que precisam de nós, decoremos o rosto dos políticos corruptos, dos profissionais financistas e dos que nos enganaram, e nos façamos presentes na memória daqueles que queremos bem.
Por favor, decore meu rosto...
Eu decorarei o seu e vc?